Saturday, October 21, 2006

No café costumeiro...

... havia um movimento desusado. Era noite de fado.

As que faziam as honras da casa, loiras e espampanantes, preparavam-se. Uma trazia meia de vidro que mal se ajustava à perna - a única magra do sítio. Os sapatos de outra, bem envernizados, alteavam-lhe a perna aí uns quinze centímetros. Eram todas de meia-idade.

Chegaram os maridos com as violas: gordos, boçais.

Imitações de oiro, neles e nelas, não faltavam. Elas sempre a aperaltarem-se, pintando os lábios de vermelho. Uma mirou-se no vidro da sala. Outra perdeu quinze minutos de vida no w.c. a lavar-se por baixo.

Passaram os maridos e um deles largou um nota de música para as luzes da noite (ou para alguma?):

- He!, pessoal, vamos?

E outro:

- Vamos treinar, caralho?

Mais tarde fez-se «ribalta». Foi o êxito!

Chaplin não se envergonharia...


(30-11-1989)

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