Sunday, October 15, 2006

O Homem da Terra Brava e os Lobos

«Era na Serra da Cabreira, eu falava com os lobos e eles respondiam-me. Às vezes, no monte, lá aparecia um a interromper-me a sesta mas eu levantava-me, cumprimentava-o, e ele: "pernas, para que te quero!".

«Um dia, vinha eu pela serra com a mulher, já se fazia noite, saiu-nos um lobo ao caminho e seguiu-nos até casa - "Vês?, ali em cima, naquele monte?... é um lobo! Não te preocupes, mulher... Queres ver: então pá, como vai isso?, a fome aperta?" -. Quando um lobo nos segue pela direita um homem domina-o, mas se é pela esquerda aí não há defesa porque esse é o lado fraco do homem. E a gente tem que o ver antes que ele nos veja a nós senão começamos a gaguejar e fica-se ali preso e mudo!

«Lá seguimos caminho e eu todo o tempo a entreter o malvado, a falar-lhe das coisas boas e más que a vida tem, até chegarmos a casa. Aí, peguei na espingarda, carreguei-a pela boca, disposto a pegar o fidalgote pelas ventas mas já ele "dera às de vila Diogo". O raio do bicho era mais esperto que nós, já estava para longe, a uivar, a chamar uma fêmea!

«Um lobo é como um cão, há até cães piores que lobos!»


(1993)

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