«Maria,
Quando for a sepultar tem o cuidado de verificar que me ponham a mão esquerda sobre a direita – ao contrário do que fazem –, dada a minha preferência pela esquerda. Pede ao cangalheiro que me não corte o fato nas costas: já me bastou que em vida me cortassem tantas vezes na casaca sem eu saber. A razão é simples: quero despertar na Noite dos Defuntos da tumba e dançar com os meus colegas aquele thriller do Michael Jackson sem que pareça um farrapo humano e também para que não se assustem comigo, caso me vejam.
Se puderem deixar um copito de maduro tinto de vez em quando eu cá me arranjo. Pelo Natal podem deixar uma fatia de bolo-rei e um naco de queijo da serra e também um Porto – mas cuidado para que não os roubem! (o mesmo pela Páscoa, aniversário e festas principais – substitui o rei pelo pão de ló ou bolo de chocolate) Pedia-te também que me não pusessem velas por conta dos meus pecados em vida – não há necessidade de o pessoal saber se foram muitos ou poucos. É tudo quanto te peço.
Cá te espero,
Teu João.»
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