Se o Bulhão Pato tem as suas amêijoas, o Caçador o seu coelho, o Zé do Pipo o seu bacalhau (e também o Gomes de Sá) e o Eça as suas prosas sobre “um azeite da serra digno dos lábios de Platão”, “um vinho de Tormes (…) tendo mais alma, entrando mais na alma, que muito poema ou livro santo” (vem n’A Cidade e as Serras)* ou uma cabidela de caça do abade de Cortegaça, o mesmo que dava, “nos sermões de Domingo, (…) aos fiéis ajoelhados para receberem a palavra de Deus, conselhos sobre o bacalhau guisado ou sobre os condimentos do sarrabulho” (vem n’O Crime do Padre Amaro)**, seria falha grave e erro de palmatória que o Corvomanias, como amante da boa mesa que é, não tivesse também a sua própria criação estética na área da gastronomia e dela se esquecesse de falar.
Com uma laranja, uma banana e um pouco de açúcar mascavado, arte e precisão de mãos (e isto é muito importante) e o indispensável apetite e bom gosto, aqui fica a deliciosa sobremesa “Estrela-do-mar à Corvomanias” (Esta tem oito braços – raríssima (não só pelo número de braços mas também por ser número par) –, emendo, uma raridade de oito gomos):
(1. E perguntam vocês: a) Quem é «Raimundo António de Bulhão Pato» (Bulhão Pato)? – Wikipedia; b) “Zé do Pipo” (José Valentim)? – Idem; e c) “Gomes de Sá” (José Luís Gomes de Sá Júnior)? – Idem;
2. O que é a «Gastronomia»? – Wikipedia;
3. Já agora: «Estrela-do-mar».)
________
* «À mesa e na cozinha de Eça, escritores não dão sopa de letras» – Diário de Notícias de 2017/07/14;
** PEIXINHO, Ana Teresa, «Estética alimentar queirosiana: notas gastronómicas na obra de Eça de Queirós», p. 19 (pdf); Universidade de Coimbra, Faculdade de Letras, CEIS20; Imprensa da Universidade de Coimbra.
No comments:
Post a Comment