Ajuste de contas com o 25 de Abril. PSD, CDS, CHEGA e IL rejubilam com o 25 de Novembro e reescrevem a História.
O que foi ou marcou o 25 de Novembro (de 1975)? Fim do “Processo Revolucionário em curso”* a que sucedeu o Processo Constitucional em Curso**, agora Processo de Radicalização em Curso***, pela mão da direita e extrema-direita.
(* A inexactidão da expressão “PREC” (“Processo Revolucionário em curso”): “Um golpe militar de capitães” no dia 25 de Abril de 1974, a que se sucedeu, logo no primeiro dia, “um levantamento militar, e, quase simultaneamente, um levantamento popular” (Álvaro Cunhal, «A Verdade e a Mentira na Revolução de Abril (A contra-revolução confessa-se)», editorial Avante, Lx., 2.ª ed. com correcções, 2016, pp. 103-104), deram origem a uma revolução popular que terminou com a contra-revolução do 25 de Novembro de 1975.
** Varela, Raquel (2012), Historiadora. «O Partido Comunista Português e a esquerda militar». ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. Ler História (63): 49-73. (§ 68: citando as palavras de Manuela Cruzeiro: “processo constitucional em curso”)
*** «O 25 de Novembro e o “Processo de Radicalização em Curso” da AD» (“O 50.º aniversário do 25 de Novembro de 1975 tem sido pretexto para uma acesa disputa em torno da relevância desta data. Deturpando o seu significado, assiste-se à sobrevalorização do que se passou.”) – Francisco Bairrão Ruivo (Historiador, Instituto de História Contemporânea, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa/IN2PAST), Jornal Público de 2025/11/23.
O artigo começa com:
““Não andas aqui a brincar, né filho?
Precisas de ter razão
Precisas de atirar as culpas para cima de alguém
E atiras as culpas para os da frente
Para os do 25 de Abril
Para os do 28 de Setembro
Para os do 11 de Março
Para os do 25 de Novembro
Para os do... que dia é hoje, hã?”
José Mário Branco, “FMI, Ser solidário”, 1982”
E acaba com:
“Aparentemente, em 2025 o 25 de Novembro comemorar-se-á, entre outras iniciativas, com uma parada militar num mundo sob crescente ameaça bélica, cada vez mais perigoso e extremado à direita, organizada pela comissão na dependência do ministro da Defesa Nacional. Vincar-se-á a dimensão militarista, apagando a marca cidadã e popular. A única manifestação popular marcada para o dia 25 de Novembro de 2025 parece ser a do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.
“As comemorações dos 50 anos do 25 de Novembro serão dinamizadas por CDS e PSD e apoiadas por IL e Chega, partido que acaba por ser herdeiro de alguma da extrema-direita derrotada em Abril e Novembro, ligada à maioria das acções violentas e a dezenas de mortes entre 1975 e 1979. Excluirão, para além da esquerda parlamentar, os principais actores militares e civis do campo vencedor do 25 de Novembro, os oficiais do MFA, muitos deles responsáveis também pelo 25 de Abril, e o PS.
“A exacerbação do 25 de Novembro destapa o ascenso de uma direita ultraconservadora, radical, fundamentalista, amargurada e em busca de vingança e de um ajuste de contas histórico. Porque sempre viveu mal com o 25 de Abril e com a matriz revolucionária da democracia portuguesa e de forma ambígua com o derrube de uma ditadura de extrema-direita, a Guerra Colonial, a descolonização, as independências africanas e a participação das massas populares na política. Esse tempo em que — não obstante eventuais e inevitáveis, dada a excepcionalidade revolucionária, erros e passos em falso — os pobres, os esquecidos e os marginalizados perderam o medo, tomaram a palavra e o espaço público, conquistaram direitos e liberdades fundamentais e contribuíram, lutando, para que Portugal fosse um país mais justo, mais solidário, mais moderno, mais igualitário e mais democrático.”
1. «Crise de 25 de Novembro de 1975» – Wikipedia.
2. «Saída dos páras: o mito do 25 de Novembro» – Raquel Varela, Historiadora (WordPress), em 2025/11/14, transcrevendo o excerto da entrevista dada a propósito do lançamento do livro “Do 25 de Novembro aos nossos dias – História da Contrarrevolução”:
“Portanto, este livro, em primeiro lugar, oferece uma explicação para a saída dos páras que afirma categoricamente que para o desenrolar da contrarrevolução esse evento não tem a relevância que o PS e a direita lhe tentaram dar. (…) demonstramos que não só é inequívoco que “este” golpe de direita estava preparado desde o Verão de 1975, como ele tinha de parecer um golpe mais ou menos de esquerda; depois fazemos a história da contrarrevolução, da destruição das “conquistas de Abril”, que se dá, de facto, em boa parte, entre 1975 e 1989.”
“A história é um casamento entre evidência e conceito, não é nem só eventos, nem só testemunhos.”
3. «Agora é tarde» – Raquel Varela, Historiadora (WordPress), em 2025/11/21: “As conquistas de Abril não se perderam agora, quase todas terminaram até ao final dos anos 1980, quando o Estado Social foi substituído pelo Estado assistencial – fim da gestão democrática nas escolas, 1976, fim do poder das comissões de trabalhadores, 1979, fim da gestão democrática dos hospitais, 1982 e por aí fora, até à entrega das empresas capitalizadas como a Banca, comunicações e transportes a accionistas privados, regressados de Copacabana, num negócio financeiro que ruiu em 2008. E cuja resposta foi a venda de solos do país para salvar os banqueiros salvos em 2008 – há um fio condutor de 25 de Novembro de 1975 até aos dias de hoje.”
4. Nota: desenho a lápis do autor e colorido digitalmente, agora com modificações: um lusitano (português), numa das histórias de Asterix e Obelix, fala com um centurião romano; e fotografia da emissão televisiva da RTP Notícias.)

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