Tuesday, May 22, 2012

O pesamenteiro

Conhecia toda a gente, vila e redondezas. Não havia vivalma que não entabulasse conversa com ele e fizesse amizade. 

Soube de mais um que se fora para a terra da verdade. Pôs pés ao caminho e foi apresentar pêsames.

(Alguém disse: “Vem aí o pesamenteiro!”) 

A história do costume: a boa pessoa que era, a vida é madrasta, os bons é que se vão, nunca descambando para a tristeza-desgraça, levantando o moral, lembrando os momentos picarescos, avivando o apetite, uma graçola aqui outra acolá… Criar ambiente, deixar as horas passar até os enlutados sentirem fome de rabo

(Quando havia picurruchada, sempre pronta a lambuzar-se e fora de estados fúnebres, ainda melhor!)

Come co’a gente…” 
Ora essa! Que maçada…” 
Que não, que não era maçada… 
Pois se não é…” toca a ir dar ao dente! (não o disse mas pensou) E só podia ser assim, porque a seguir à funerária e ao padre o pesamenteiro era uma autêntica instituição, espécie de cronista social que se tinha de trazer nas palmas da mão… 

(E como aquela gente comia!)


(1. Pesamenteiro (brasileirismo): aquele que, a pretexto de dar pêsames, se introduz nas casas para comer; 2. Fome de rabo (sentido figurado): muita vontade de comer; fome extrema; 3. Picurruchada (brasileirismo): pequenada)

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