Conhecia toda a gente, vila e redondezas. Não havia vivalma que não entabulasse conversa com ele e fizesse amizade.
Soube de mais um que se fora para a terra da verdade. Pôs pés ao caminho e foi apresentar pêsames.
(Alguém disse: “Vem aí o pesamenteiro!”)
A história do costume: a boa pessoa que era, a vida é madrasta, os bons é que se vão, nunca descambando para a tristeza-desgraça, levantando o moral, lembrando os momentos picarescos, avivando o apetite, uma graçola aqui outra acolá… Criar ambiente, deixar as horas passar até os enlutados sentirem fome de rabo.
(Quando havia picurruchada, sempre pronta a lambuzar-se e fora de estados fúnebres, ainda melhor!)
“Come co’a gente…”
“Ora essa! Que maçada…”
Que não, que não era maçada…
“Pois se não é…” toca a ir dar ao dente! (não o disse mas pensou) E só podia ser assim, porque a seguir à funerária e ao padre o pesamenteiro era uma autêntica instituição, espécie de cronista social que se tinha de trazer nas palmas da mão…
(E como aquela gente comia!)
(1. Pesamenteiro (brasileirismo): aquele que, a pretexto de dar pêsames, se introduz nas casas para comer; 2. Fome de rabo (sentido figurado): muita vontade de comer; fome extrema; 3. Picurruchada (brasileirismo): pequenada)
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