“Cornecho também teria gostado de saber geometria mas isso fica para os vigilantes dos faróis…”
Farol! Farol!
Que guarda um faroleiro.
Aqui nada acontece
Só este luzeiro.
Com mil cabrestantes,
Que raio de emprego!
Tanto céu
Tanto mar
E sem poder navegar…
Onde está o sextante?
Diz-me tu, ó musa!
O que é isso do quadrado da hipotenusa?
Tanto mar
Tanto céu
Por acaso agora até ia um toucinho-do-céu…
Há que levantar
Ir lavar a cara
Dar corda ao farol.
(1. «(…) Cornecho gostava de falar latim mas não precisava dele para nada, os sacristães não têm de ter demasiadas necessidades nem caprichos caros porque para o seu ofício basta a humilde paciência e a resignação, os sacristães devem ser bem conformados e de natureza sóbria, Cornecho também teria gostado de saber geometria mas isso fica para os vigilantes dos faróis, para os poetas e para os músicos de precursão e de sopro, os de cordas deixam-se levar mais pelo instinto porque a mão segue sozinha, a padroeira dos músicos é a Santa Icía a quem martirizaram de uma maneira muito desconsiderada, o verdugo não lhe acertara bem e deu-lhe os três golpes de espada que a lei permitia (…)» - Madeira de Buxo (Madera de Boj, 1999), de Camilo José Cela;
2. «Sacristães vs. Sacristãos» (no texto em cima) – Ciberdúvidas da Língua Portuguesa;
3. Dicionário e geometria: a) farol: torre ou qualquer construção elevada ao sopé do mar, em cuja parte mais alta se instala um foco luminoso ou facho, para que o vejam de longe os navegantes e lhes indique a paragem, a entrada do porto ou os rochedos, escolhos, etc., da costa que devem evitar; b) luzeiro: aquilo que espalha ou irradia luz; clarão, brilho; c) “com mil cabrestantes!”: expressão típica de um lobo-do-mar (marinheiro velho e experimentado nas lides do mar); e “cabrestante”: sarilho de cilindro vertical que, a bordo de navios, serve especialmente para, por meio de alavancas, exercer tracções em sentido horizontal; veio que se move horizontalmente sobre si e no qual se envolve a amarra da âncora quando se eleva; d) sextante (termo náutico): goniómetro de mão, insensível à instabilidade de plataforma, destinado a ser especialmente empregado entre os pontos da esfera celeste, entre estes e o horizonte ou entre pontos da superfície da Terra, baseado essencialmente no princípio da reflexão dupla; e) Musa: fonte de inspiração de um poeta; mulher que inspira um poeta; f) o teorema de Pitágoras: o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos; g) toucinho-do-céu: nome de certo doce fino em que entram ovos e açúcar – de comer e chorar por mais!)
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