Wednesday, September 08, 2021

O barco do Senhor João Rebelo. Avenida de Montevideu, Foz do Porto.

Em frente aos números 580 e 574 da Avenida de Montevideu, quase a chegar à Rua de Pero da Covilhã, na Zona da Foz do Porto, passada a Esplanada do Molhe e seguindo pelo Passadiço das Ondas, próximo do Bar Praia do Aquário, jaz a céu aberto, por entre as rochas do oceano Atlântico, um velho navio e poucos sabem a sua história. Quando era novo, quando ainda tinha alma, ostentava uma cor azul com uma faixa branca, mas isso foi há vinte e tal anos quando o seu construtor, o Senhor João Rebelo, o colocou numa rocha como um farol para que fosse visto não só do mar mas também da terra.

Feita de cimento armado e presa à rocha por um bloco a obra de arte era o orgulho do senhor João Rebelo, o seu autor. Mas a capitania, que é quem por ali manda, por mão de um “zeloso oficial amanuense de porto que se calhar nunca pôs pés no mar, nem sabe o que isso é”, entendeu que aquilo não era admissível e, vai daí, arrancou-a do lugar e jogou-a metros atrás como um cão morto. O senhor João Rebelo morreu por dentro e ainda hoje a alma se lhe dilacera ao ver a “sua” obra de arte derrubada, que era de todos, numa triste postura, sem qualquer dignidade.

Pois o barco por lá continua nas rochas, como se disse, vítima do arrojo ao tempo do seu autor, destronado, e só olhos atentos, pela curiosidade que suscita, dão por ele. Nada de espantar, pois histórias destas, infelizmente, há milhares pelo mundo!


(Localização: Estação de Zoologia Marítima "Dr. Augusto Nobre", Porto: 41º09'50.460''N 8º41'13.770''W ou 41.164017, -8.687158)

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