Tuesday, April 15, 2008

O relatório policial do polícia neo-realista

«Polícia escreve poesia nos relatórios de ocorrências», titula o Portugal Diário de ontem. – E quando é em prosa é qualquer coisa assim:

«Se Zé da Toca melhor pensou melhor fez: mesmo nas barbas da polícia servia-se da melhor carne do vazio que havia no talho e, num abrir e piscar de olhos, tomou de assalto o café logo ao lado onde se barricou, ameaçador, de arma em riste.

Aí, fritou o bife, bebeu, tomou café e puxou de um cigarro. No final, entregou-se de mãos no ar, andar de gingão.

Preso, levado para a esquadra, contou que ficou por levar os sapatos tipo luva da sapataria vizinha e depois dar um pé de dança com eles na tarde seguinte, no bailarico das sopeiras e senhoras de cinquentas, a armar ao janota. Não foi preciso ler-lhe os direitos, pois confessou-se com a maior naturalidade, ciente que procedera correctamente. Até adiantou: "isto é o que faz um ser livre!"»

(Além do relatório, falta dizer:
presente ao juiz, já estava condenado.)


(1. A notícia; 2. Uma notícia quase igual: «Ladrões com requinte: primeiro trata-se do bucho, depois trata-se do ego!», neste «blog» (2008/01/26))