I.
Que azar! Um dia antes e estavam de candeias às avessas. De modo que aquele dia, dia de São Valentim, era uma oportunidade única para fazerem as pazes. Com um beijo, à cautela é certo, estendeu à mulher um ramo de flores e uma caixa de bombons… São Valentim faz milagres!
Ao jantar lá estava o delicioso bacalhau com natas, o seu prato favorito.
Amor com amor se paga! No caso, presente com presente se paga! E como alguém disse: «muitas vezes o caminho para o coração passa pelo estômago»
II.
Quem fala de namorados, trocas de amor e juras, lembra-se decerto do tempo em que escrevia cartas de amor… Vem à memória o poema de Álvaro de Campos:
«Todas as Cartas de Amor são Ridículas
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)»
Álvaro de Campos, in "Poemas",
(heterónimo de Fernando Pessoa)
(1. «Dia dos Namorados» e «São Valentim» - Wikipedia; 2. A frase assinalada entre aspas é retirada da seguinte notícia: «Não tem namorado? A Câmara de Lisboa arranja-lhe um» - Público de hoje; 3. Já agora: «Fernando Pessoa» - Wikipedia)
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