Lançados pelos russos no Mar de Barents para alimentação local, os caranguejos-reais(*) desceram para as águas do Mar da Noruega e Mar do Norte e daqui chegaram à Grã-Bretanha, ouvi na televisão, mas também sei disto porque os vi quando dei de caras com o olho da Rosa Bugairido nas rochas, no meio dos mexilhões, e, garanto-te, são autênticos bulldozers dos mares, um metro e oitenta de envergadura e doze quilos de peso, tanto, é o que te digo, por onde passam escavam tudo e devoram os ouriços-do-mar e as estrelas-do-mar e o que encontram à sua frente, enquanto dizia isto Caralhuda de Valadouro(**) deu um toque com o dedo no smartphone e Carmela Conacha Brava(**) foi à boleia, é sabido que as senhoras fazem várias coisas ao mesmo tempo, as duas com as caras iluminadas pelo luar dos aparelhos, pois já era lusco-fusco, está aqui, Caralhuda sorria, o mapa é o mesmo, e mostrou, estas são as águas do Império Anglo-Escandinávico, nas primeiras décadas do século onze, aos anos que vai, e as coisas que tu sabes, é só procurar Carmela, diz aqui que Canuto era o filho mais novo do rei dinamarquês Sueno Barba-Bifurcada, eles inventam cada nome, Carmela parecia que não ouvia, ou não estava interessada, mas ainda assim disse, os nossos não são melhores, e mais, olha a foto que a Beatriz publicou do filho, parece o Antero de Quental, tem mais dois, um rapaz e uma rapariga, e apontava, aqui ele, a mulher e os buzicos, de férias nas Canárias, também ganham bem, Caralhuda não despegava, queria voltar ao assunto, sim, algum devem ter, mas se fosse para as águas do Mar do Norte...
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1. Caranguejo-Real: a) «Red king crab» (Caranguejo-Real Vermelho ou Caranguejo-Real do Alasca) - Wikipedia; e b) «Caranguejo do Alaska» (três variedades entre as quais o Caranguejo-Real) - AlaskaSeaFood; 2. «Mar do Norte» - Wikipedia; 3. «Império do Mar do Norte» - Wikipedia; 4. Fotografia da emissão de “Mares em Movimento: Maravilhas do Mar do Norte”, RTP 2, T.1 Ep.2, 2024/10/02.)
(*) Os caranguejos-reais são nativos do Mar de Bering, Golfo do Alasca, Mar de Okhotsk e Mar do Japão.
(**) “A Cruz de Santo André”, 1994, Camilo José Cela; escrito (quase) segundo o livro de estilo de Camilo José Cela.
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