Saturday, October 12, 2024

Gémeas eram chamadas de “meninas do Presidente”. É o diz que disse.

Caralhuda de Valadouro(*) descansou o smartphone, ao lado Carmela Conacha Brava(**), deviam inventar o dia da gargalhada porque isto anda muito monótono, não sei se existe o dia, se calhar já existe, e trá-lá-lá as duas, rebeubéu-pardais-ao-ninho, no lusco-fusco do terreiro quase só se distinguia quem falava pelo timbre das vozes, ouvidas ao longe as duas sombras confundiam-se e as vozes embalavam quem as ouvisse, esperavam os maridos, disseste monótono, olha que a tarde foi demais, ai sim, deu na tevê, a Teresa Moreno foi à comissão de inquérito das gémeas, a médica das meninas luso-brasileiras, sabes, e o que disse ela, disse que a frase que se ouvia nos corredores do hospital, dita entre o rumor e a brincadeira, a rir, era vêm aí as meninas do Presidente, hehehe, claro que é o diz que disse, Caralhuda olhou o smartphone, lá está a Beatriz a mandar tacadas no facebook, sempre a mesma, é inveja, não é, e riram as duas a bandeiras despregadas, vá-se lá saber porquê. Estava inventado o dia.




2. (*) e (**) “A Cruz de Santo André”, 1994, Camilo José Cela; escrito (quase) segundo o livro de estilo de Camilo José Cela.)

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