... havia um movimento desusado. Era noite de fado.
As que faziam as honras da casa, loiras e espampanantes, preparavam-se. Uma trazia meia de vidro que mal se ajustava à perna - a única magra do sítio. Os sapatos de outra, bem envernizados, alteavam-lhe a perna aí uns quinze centímetros. Eram todas de meia-idade.
Chegaram os maridos com as violas: gordos, boçais.
Imitações de oiro, neles e nelas, não faltavam. Elas sempre a aperaltarem-se, pintando os lábios de vermelho. Uma mirou-se no vidro da sala. Outra perdeu quinze minutos de vida no w.c. a lavar-se por baixo.
Passaram os maridos e um deles largou um nota de música para as luzes da noite (ou para alguma?):
-
He!, pessoal, vamos?E outro:
-
Vamos treinar, caralho?Mais tarde fez-se «ribalta». Foi o êxito!
Chaplin não se envergonharia...
(30-11-1989)