Thursday, December 13, 2018

O fantasma da sotaina

Dizem que os fantasmas são brancos, translúcidos, cor de nuvem, tipo lençol ao alto com ponta amarrada a fazer de pé e no topo dois buracos a fazer de olhos. Esta é a forma que têm de aparecer ao mundo pois na verdade são invisíveis. O gozo maior que têm é pregar partidas aos humanos. A rasteira e o empurrão são das mais preferidas. 

Todos os fantasmas atravessam séculos além de atravessar paredes. São navegadores do tempo. Já eram vistos no Antigo Egipto. Representações em cavernas da Pré-História dão conta da sua existência mesmo entre espécies humanas já extintas, como o Neanderthal. São, por isso, uma espécie de História Universal ambulante. Os fantasmas sempre acompanharam a espécie humana e outras subespécies humanas de modo que há 65 milhões de anos não existiam. Sabemos, portanto, que não foi por culpa deles que os dinossauros se extinguiram.

Como em tudo na vida aqui também há os de mau gosto. Usam a sotaina em vez do lençol, coisa em desuso entre nós. Os fantasmas jovens, tipo Artur, O Fantasma Justiceiro, quando em berço ainda se davam as primeiras cruzadas, escangalham-se a rir quando vêem um vestido à padre e assobiam-lhe. Quando não lhe chamam lençol de viúva, pá de construção civil ao alto cheia de botões, o que calhar. Nisto, os fantasmas, têm um sentido de humor muito britânico. Ou será francês?

Eis, portanto, o nosso fantasma da sotaina:

Dizem que os fantasmas são brancos, translúcidos, cor de nuvem... mas este não é.
























(1. «Artur, o Fantasma Justiceiro» e o «O Falcão [1ª série]» - Bedeteca Portugal; 2. E ainda «Artur e fantasmas» neste «blog».)

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