Quando os serviços mínimos são máximos.
Quando se decretam serviços mínimos de cinco coveiros em cemitérios onde há apenas três.(*) Quando, por absurdo, os trabalhadores da empreitada na casa do senhor ministro(**) querem fazer greve, andam no gamanço do tijolo e do cimento fornecido ao ministro pelo presidente da câmara por troca de favores, e atrasam a mansão.
São dois exemplos de como as greves perturbariam seriamente o descanso dos mortos (no primeiro caso) e a construção da casa do senhor ministro (no segundo caso), e, por arrasto, o presidente da câmara, o governo e o empreiteiro, provocando alarme social.
Além disso, as greves são uma chatice: aparecem nos telejornais e pelo aparato que têm dão uma má imagem do país, cá e no estrangeiro, com gente aproveitadora a “urrar” que o governo é incompetente. E são como o preço das casas e das rendas: sempre a crescer e a “disparar”.
Se queremos ser um país civilizado, há que “ensinar” os grevistas e doutriná-los para que respeitem os “princípios gerais da proporcionalidade, adequação e necessidade” das greves, arrazoado difícil de compreender mas que significa torná-los bem comportados. Pois já não estamos em 1732, “nas obras de construção do Palácio de Mafra, quando os operários se recusaram a trabalhar até que os salários atrasados lhes fossem pagos”.(***) Nada disto acontece hoje.
Foi ontem ouvida a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Maria do Rosário Palma Ramalho, na Comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão da Assembleia da República.
O assunto já se vê qual foi: a intenção do governo de proceder à revisão da Lei da Greve e “consagrar a obrigatoriedade de serviços mínimos em todas as greves, incluindo naqueles sectores onde tal imposição legal não se verifica actualmente.”
E o que disse ela, perguntam vocês? Bem, em dois gestos simples a ministra disse tudo. Ora vejam:
(1. As notícias: a) «Transportes e saúde no top 5 dos setores com mais greves desde 2023, diz ministra» – Observador de 2025/09/26; b) «Transportes e saúde entre os setores com mais greves» – Jornal de Notícias de 2025/09/25; c) «Transportes e saúde no top 5 dos setores com mais greves desde 2023» – RTP Notícias de 2025/09/25; e d) «Transportes e saúde no top 5 dos setores com mais greves desde 2023» – Rádio Renascença de 2025/09/25;
(*) No último parágrafo da notícia: «Patrões querem ir mais longe do que Governo nos setores com serviços mínimos nas greves» – RTP Notícias de 2025/09/24;
(**) Um hipotético, imaginado, ministro;
(***) «MONTEIRO, Catarina Isabel Teixeira, ”A OBRIGAÇÃO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS MÍNIMOS COMO LIMITE DO DIREITO DE GREVE”, Dissertação no âmbito do Mestrado em Ciências Jurídico-Empresariais (...); Universidade de Coimbra, Outubro de 2020; p. 14, nota 13» (pdf);
2. Nota: composição a partir das fotografias da emissão televisiva da ARTV – Canal Parlamento.)

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