Antigamente dizia-se que «homem não chora». Por extensão de ideias, e ainda com mais razão, o mesmo deveria suceder com o Homem-Aranha.
Só que os tempos são outros e as verdades são assumidas mais às claras.
Bem vistas as coisas chora-se em criança, mas criança ainda não é homem!
O máximo que era permitido era chorar por um ente querido e pelo cão, mas por um gato já a coisa dava para desconfiar! Admitia-se, também, que um homem pudesse «chorar de raiva», mas tinha de ser de murro na mesa. Isso já era de homem, embora, mesmo assim, não fosse lá muito bem visto!
Claro que não estamos aqui a falar de lágrimas de crocodilo, a propósito deste ou daquele interesse, que é uma coisa que vem dos tempos de que o homem é homem, desde que começou a juntar coisas e a bater-se por elas, nem que fosse por um simples osso de baleia.
Mas este, o Homem-Aranha 3, super-herói, chora por causa de dúvidas existenciais (deve ser alguma influência com raiz em Sartre), que é como quem diz: tem um chorar mais refinado.
Legenda: Homem-Aranha, em atitude de "O Pensador, de Auguste Rodin", com um livro de Sartre. É caso para perguntar: depois de Sartre o mundo acabou?
Se a moda pega os heróis da nossa praça pública ainda começam p’rá ‘í a chorar por causa das crises governamentais, pelo político independente que traiu o partido e que não sai e devia sair, ou por causa daquele que diz «sou um senhor e tenho o Ministério Público à perna?!», ou ainda por causa da falta de gente nas igrejas, pela brincadeira da caridadezinha ao próximo... Mas nunca com um chorar natural, tipo bebé: «dói-me um dente!», «tenho fome!», ou este que também conhecemos: «como vou pagar a prestação da casa?» - estão a ver? -, nunca, por nunca, pelas coisas básicas da vida que afligem os cidadãos comuns!
(1. Correio da Manhã de 2007/05/05: «Homem-Aranha: Os heróis choram»; 2. O existencialismo de Sartre - Wikipedia; 3. O Pensador (Rodin) - idem)
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