Tarde de sábado.
Alugou um carro e foi com os filhos e a mulher para um safari.
À entrada do parque a advertência era explícita: «aproximando-se, mantenha os vidros do carro fechados», «não dê comida aos animais».
Chegados à zona dos elefantes os putos não resistiram e vai daí, à socapa, toca a dar de comer aos paquidermes. Vocês já sabem, elefante é mesmo assim: mete sempre a tromba onde não é chamado! Os miúdos fecham o vidro precipitadamente mas o animal, que não gostou de se sentir trilhado – e nisso é como as pessoas! –, toca a dar com a tromba no tejadilho a modos de como quem diz: «isto é um simples aviso!»
Legenda: elefante naquela de «vou-te dar uma marretada!»
Na recepção do parque o homem, vivamente excitado, queixava-se da agressividade dos animais e para o acalmarem oferecem-lhe um conhaque. Um, não! Dois. Dois? No mínimo uns três! Bem, os necessários para que o homem se acalmasse, e mais mil desculpas pelo sucedido, que não era tanto assim, que não era tanto assado, que, bem vistas as coisas, até teve sorte em não ter ficado «assadinho» como João Ratão no caldeirão, etc., ou seja, a visão do melhor lado da vida, um mundo cor de rosa, com anjinhos, confetti de Carnaval e, claro está!, sempre mais conhaques!
Legenda: o nosso homem quase quase a cair na armadilha!
Por fim, convencido, lá seguiu caminho, risonho como um bebé, estrada fora, para fora do parque. E tão contente ia e livre e confiante se sentia ao volante que, eis, bate de chapas no carro mesmo à sua frente!
Lá foi chamada a polícia – que é o normal quando não há entendimentos – e feita a avaliação dos estragos. Coisa de pouca monta: um farolim, uma jante empenada e algumas «escoriações» próprias de carro (que nestas coisas as máquinas também têm as suas maleitas!), preenche para lá, preenche para cá, o bê-á-bá do costume, tudo na calma…
O pior estava para vir.
Legenda: aqui é que foi o busílis!
- E isto aqui no tejadilho? – Quis saber o polícia.
- Ah! Isso aí foi do elefante.
- Ai foi? – Retorquiu o polícia – Pois… Importa-se de bufar ao balão?
Como num relâmpago passa em revista as imagens do dia: um sábado soalheiro (talvez demasiado), um elefante com a mania que era escadote e armado de marreta, um funcionário todo solícito a servir-lhe conhaques de uma garrafeira semiclandestina, uns atrás dos outros, e um pensamento final, triste e negro como a noite:
Legenda: mente ainda sob o efeito do álcool!
«Meu Deus! Perdi-me! Como foi possível? Logo a mim, eu que toda a vida sempre fui um gajo muito direitinho!»
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