Sunday, December 07, 2025

A Máfia vista em imagens distorcidas – VI

(RESUMO: Porto, Terça-feira, cinco da manhã do dia 19 de Agosto de 2025. Um tipo está numa varanda a fumar um cigarro, de ouvidos na televisão. Inclinando-se para o interior da sala, fotografa de cima para baixo partes do filme*, que saem distorcidas.)

Estamos em Palermo (Sicília), na ZEN 2 (Zona de Expansão Norte), um bairro de habitação pública com problemas sociais.

É Quarta-feira, dia 19 de Julho de 2017 e decorre o concerto. Toca música “neomelódica”****.

Mas a Máfia não gosta do que vê. E o espectáculo, “surreal”,  transforma-se numa “trágica experiência”: Ciccio raspa-se da sua casa em Carini (Palermo) para Castelvetrano, a pouco mais de 100 km de sua casa, e a devota esposa de Ciccio Mira diz que não o tem visto mas ele está, de certeza; Matteo Mannino, “produtor, conselheiro e a alma gémea do Ciccio Mira”, vive algures, escondido num sítio esconso, é radioamador, e agora passa os dias a falar com os extraterrestres, confunde Falcone e Borsellino com Tottò e Peppino***** e faz-se de doido mas a verdade é que está transido de medo; e o filho de Ciccio Mira, Cristian Miscel, um títere nas mãos do pai, que canta monocordicamente como um “Zé Cabra”******, ou pior ainda, está temporariamente internado em La Guadagna, um hospital psiquiátrico.

A 20 de Abril de 2018 o Tribunal de Palermo, num veredicto sem precedentes, considerou que o Estado Italiano foi cúmplice da Máfia.

Legenda: És um chibo!


(1. A notícia: «Trattativa Stato-mafia: la sentenza della Corte di Assise di Palermo» (“Negociações entre o Estado e a Máfia: A decisão do Tribunal de Justiça de Palermo”) – Giurisprudenza Penale em 2018/04/22;

* 2. “Era uma vez a Máfia” (2019) é “um filme de «Franco Maresco» – Wikipedia, com «Letizia Battaglia» (fotógrafa e fotojornalista italiana, referência do movimento Anti-Máfia) – Wikipedia – e Ciccio Mira; foi transmitido na madrugada de 2025/08/19, na RTP2: a) «Sinopse»; e b) «Era Uma Vez a Máfia» (thriller) – Cine Cartaz Público de 2021/11/04 (esteve mas já não está acessível “online” na plataforma RTP Play);

3. ** «Salvatore Riina» (Totò Riina, “​(16-11-1930 – 17-11-2017), “apelidado de Totò, foi um mafioso italiano e chefe da máfia siciliana , conhecido por uma campanha de assassinatos implacável que atingiu o auge no início da década de 1990 com os assassinatos dos procuradores da Comissão Antimáfia Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, resultando em ampla indignação pública, mudanças na legislação e uma grande repressão por parte das autoridades.”) – Wikipedia;

4. «Vito Ciancimino» (foi um político democrata-cristão italiano próximo da Máfia) – Wikipedia;

5. Sobre a Máfia: a) «Sicilian Mafia» (Máfia siciliana ou Cosa Nostra) – Wikipedia; b) «Corleonesi Mafia clan» (Clã mafioso Corleonesi) – Wikipedia; c) «Giovanni Falcone» (Juiz assassinado pela Máfia Siciliana em 1992) – Wikipedia; d) «Paolo Borsellino» (Juiz assassinado pela Máfia em 1992) – Wikipedia;

6. **** «Música neomelódica»: diz-se de estilo de música característico da região italiana de Nápoles, não-Siciliana, que combina influências da música tradicional napolitana com sonoridades mais modernas. Apesar disto, “A cena musical neomelódica não se desenvolveu isoladamente. A Camorra, a organização criminosa dominante em Nápoles, desempenhou um papel importante no financiamento, produção e distribuição da música.” – Wikipedia;

***** Tottò e Peppino:  «Totò» ("o príncipe do riso") e «Peppino De Filippo» – Wikipedia (Peppino; contracenando com Totò em muitos filmes “foi uma das colaborações mais interessantes do cinema cómico italiano”.);

****** «Zé Cabra» (Casimiro António Serra Afonso) – Wikipedia: “considerado um dos piores cantores de Portugal”;

7. Notas: Fotografias da emissão do filme; não se segue necessariamente a cronologia do filme e em dois casos a legendagem foi reinventada (I – “Aqui encontramos a adorável senhora Giovanna”;  V – “Mártir só conheço o São Sebastião de Narbona”), e noutros quatro deslocada (II – “Os verdadeiros palermitanos não falam”; III – “O seu nome é Ninguém”; IV – “Toda a gente fugia em todas as direcções”; VI – "És um chibo!"), acabando por ser uma interpretação livre do mesmo.)

No comments: